
"Os robôs vão acabar com nossos empregos! Até os advogados vão perder sua função. Você não está preocupado com isso?" Como um eterno curioso e fã de ficção científica e distopias, fui olhar mais à fundo, além do que a mídia divulga. E li esses 3 livros que abriram minha mente. Não são livros de futurologia, mas nos ajudam a pensar sobre as origens da A.I., as motivações da humanidade para este futuro, e como nos encaixamos nisso tudo.
São 3 perspectivas distintas, de áreas diferentes do conhecimento humano. Temos um físico, um historiador e um CEO.
Você terá uma imagem mais abrangente ao ler os diferentes pontos de vista. Todos falam sobre I.A. e algoritmos. Se você não tem tempo para ler, fica a dica: Ouça audiobooks. Esses livros todos ouvi usando o Audible, e foi uma experiência memorável.
1) Life 3.0 - Being Human in the Age of Artificial Intelligence (Max Tegmark)
Se não puder ler os 3 livros, leia pelo menos esse. Tegmark é um físico influente do MIT, que criou uma organização para defender o uso benéfico da inteligência artificial (Institute for Life). Se te ajudar a acreditar nele, Elon Musk doou US$ 10 milhões para o instituto.
O autor considera a discussão sobre I.A. o assunto mais importante da humanidade, especialmente pelos riscos que temos ao não construirmos máquinas alinhadas aos nossos interesses, ou fazer a corrida armamentista mais letal da história.
Além de conceitos, definições e propostas, o livro apresenta 12 cenários factíveis sobre o futuro, desde Exterminador do Futuro, Matrix, 1984, a outros menos óbvios, porém muito interessantes. Provavelmente você deve ter visto este vídeo, que ficou viral nas redes sociais:
O livro quer alertar sobre um futuro como esse, e para isso, chama a comunidade de pesquisadores e a sociedade em geral para participarem da discussão.
Tegmark dá uma boa base e linguagem para podermos entender e discutir o assunto da inteligência artificial. Ele compartilha a ideia de que máquinas com I.A. são a próxima versão da vida.
Vida 1.0 (estágio biológico): evolução de hardware e software
Vida 2.0 (estágio cultural - humanos): evolução de hardware, design de grande parte do software
Vida 3.0 (estágio tecnológico - máquinas): design de hardware e software
Ao utilizar essas definições, Tegmark defende que a vida não precisa ser baseada em carbono. E que há a possibilidade de as máquinas não precisarem de nós para continuarem a história. Notem que isso é bem diferente delas quererem nos exterminar.
Outro conceito importante é separar inteligência de consciência.
As máquinas podem ser mais inteligentes do que nós, mas isso não implica que elas terão consciência. A singularidade independe da consciência.
Com muitas referências a autores de ficção científica, filmes, filosofia, cultura geek e eventos recentes (tipo AlphaGo), adorei este livro. Foi uma experiência gostosa, cheia de aprendizados, rica em definições, exemplos e insights.
E como o livro é um convite para conversarmos sobre o assunto, acesse essa pesquisa aberta pelo autor e diga o que você pensa sobre o futuro da Inteligência Artificial.
2) Homo Deus - Uma Breve História do Amanhã (Yuval Noah Harari)
Harari, historiador e autor do best-seller Sapiens, sonda o futuro da humanidade, convidando-nos fazer o mesmo com uma visão crítica. E, apesar de parecer contraditório, entender a história é essencial para pensar sobre o futuro.
"Esta é a melhor razão para aprender história: não para prever o futuro, mas para libertar-se do passado e imaginar destinos alternativos. É claro que isso não é liberdade total - não podemos impedir de sermos moldados pelo passado. Mas alguma liberdade é melhor do que nenhuma" - Yuval Noah Harari
Ele defende que a humanidade só conseguiu passar a viver em grandes sociedades porque as pessoas passaram a acreditar coletivamente em coisas que não tem realidade objetiva, mitos. Por exemplo: deuses, dinheiro, corporações, nações, direitos humanos, capitalismo, comunismo, humanismo. Ele definiu esse fenômeno como intersubjetividade, algo que existe na consciência da maioria das pessoas numa sociedade e a permite mover unida numa direção.
"Religião e ciência são aliados. Ciência está interessada principalmente em poder. Religião está interessada principalmente em ordem. Juntas, são uma equipe vencedora."- Yuval Noah Harari
A partir desta linha de raciocínio, Harari mostra que as religiões do século 21 terão componentes científicos, melhor ainda, tecnológicos. As tecnoreligiões ajudarão a explicar a realidade e tem duas principais vertentes: tecnohumanismo ou dataísmo.
No tecnohumanismo, as pessoas passam a se beneficiar das novas tecnologias e passam a se aperfeiçoar (ciborgues ou engenharia genética). Seria um mundo dos X-Men, sendo o Homo Deus mais semelhante ao Homo Superior do que a deuses propriamente ditos. O triste é que no passado já houve uma linha parecida de humanismo, o humanismo evolucionário, com consequências terríveis (nazismo).
No dataísmo, a mão invisível que guia nossas vidas não é Deus, nem o mercado, mas os algoritmos. Pode parecer uma ideia bizarra, mas preste atenção no seu cotidiano. Quanto da sua vida você já terceirizou para os algoritmos? Waze, Google, Facebook e outros assistentes inteligentes.
Quando ganhamos o prêmio CIAB Febraban em 2010, com o tema "O Banco do Futuro na visão da Geração Y", nossa equipe concebeu o iDream, um banco sem agências (virtual, estaria onde estivéssemos), fácil de usar e que pensaria por nós, cuidando da nossa vida financeira. Afinal, o que queríamos era viver nossa vida, e não ficar pensando em como cuidar das finanças. Um dos organizadores do prêmio fez um comentário que na época me pareceu estranho, mas agora faz todo sentido. "Vocês pensaram num banco deus."
À medida em que o algoritmo nos conhecer melhor do que nós mesmos, o que será do nosso livre arbítrio? Seguiremos o algoritmo ou arriscaremos tomar decisões que nos prejudicarão, por ignorância ou incapacidade?
Provavelmente você já recebeu a mensagem no WhatsApp sobre a Pizzaria Google, mas acredita que a piada já está na rede desde 2011?
O dogma do dataísmo: a informação deve fluir.
O ritual do dataísmo: Experencie, grave, faça upload, compartilhe.
Soa familiar? Imagine então a ascensão dos algoritmos com I.A. Muitos podem perder emprego (vida profissional), mas muitos estarão se beneficiando no cotidiano (vida pessoal). Será um conflito difícil, mas é importante termos consciência disso para nos prepararmos. Por isso temos proponentes da renda universal, uma forma de equilibrar a situação.
Recomendo a leitura, é uma avalanche de informação, mas organizada e escrita de forma atrativa e que estimula a pensar.
Não tem tempo para ler ou ouvir todo o livro? Leia este ótimo artigo do Financial Times sobre Harari e o dataísmo.
3) Hit Refresh (Satya Nadella)
Para terminar, vamos para a vida prática, com o livro de um Big Player no mercado de I.A.
Ao assumir o manto de Bill Gates, Satya Nadella precisava trazer algo para a ofuscada Microsoft, que se via perdida no contexto mobile, vendo a Apple virar mainstream a partir do iPod e do iPhone e a Google dominar com seu Android.
Nadella descreve sua história na Microsoft e como ajudou-a a reencontrar sua alma (uma figura de linguagem para identidade e propósito). Ele relata também momentos pessoais e profissionais em que foi necessário dar um Refresh nas coisas e aumentar a empatia em relação a clientes, funcionários e até concorrentes.
O livro é um convite para pensarmos sobre nossas experiências e a necessidade de Hit Refresh, com empatia e um olhar mais humano. Mas Nadella é CEO da Microsoft, e o livro não poderia parar nessa esfera introspectiva. É também um livro de negócios, e aqui ele demonstra o que é fazer parte de um grupo que constrói o futuro.
Ele descreve as 3 tecnologias em que a Microsoft investe para se manter na liderança na próxima geração: realidade mista, inteligência artificial e computação quântica. Nadella descreve cada uma delas e os principais esforços da empresa ser pioneira nesses mercados. Ele aproveita o livro para passar recados para diversos públicos: funcionários, clientes, acionistas, legisladores, concorrentes, pesquisadores.
Muito interessante a visão de Nadella sobre o caminhar da inteligência artificial, mostrando como Cortana e outros projetos vão fazer parte do nosso cotidiano, a ponto de não vivermos mais sem esses assistentes inteligentes para aumentar a produtividade. Ele até utiliza o personagem Baymax da animação Big Hero 6 da Disney para ilustrar a ideia.
No mundo real, podemos ver isso acontecer, basta abrir o assistente de CV do Word, que busca no LinkedIn descrições que possam servir ao seu cargo.
Ou também ver o Kinect, como um primeiro passo para nos comunicarmos com o computador de uma forma mais humana. Agora, com o HoloLens, a realidade mista será o próximo estágio dessa interação, dando-nos uma experiência de imersão impressionante.
O livro tem uma narrativa suave, porém assertiva. Nadella tem uma linguagem humilde, respeitosa e sonhadora. Um líder inspirador, propício para a nova geração, menos macho alfa, mais colaboração na veia. Fiquei admirado com este ser humano, que enxerga sua responsabilidade sobre a sociedade e quer algo mais do que retorno ao acionista. Vale a pena a leitura.
E agora, o que fazer com tudo isso?
A primeira reflexão que fiz foi pensar no papel da máquina e do ser humano. Como uma máquina pode nos ajudar a sermos mais produtivos? O que é melhor deixar a máquina fazer no nosso lugar? O que só nós conseguimos fazer?
As máquinas já nos superaram no esforço físico, e contamos com elas para isso, sem nos sentirmos ameaçados. Os computadores já guardam mais informações e em muitos casos já as processam melhor do que nós. Dessa inteligência não temos medo. O que muda então com a inteligência artificial? É o medo de perdermos nossa identidade (Sapiens)?
Para continuar a reflexão, decidi investir no aprimoramento da minha mente, para poder estar minimamente preparado para pegar a próxima onda. Acredito na combinação do melhor do ser humano com o melhor da máquina. Para isso, autoconhecimento e maturidade são essenciais. Temos razão e emoção, análise e intuição. Precisamos dominar nossas ferramentas internas. Para tal, estou usando CliftonStrengths para me conhecer melhor e me desenvolver, pois os insights sobre meus talentos e pontos fortes aceleraram o entendimento sobre como funciono e me permitem ser intencional no refinamento da minha forma de atuar.
Gostaria de deixar uma citação de Tim Cook, CEO da Apple, feita para alunos do MIT numa aula inaugural em 2017:
"Não estou preocupado com a inteligência artificial dando para os computadores a habilidade de pensar como humanos. Estou mais preocupado com pessoas pensando como computadores." - Tim Cook
E você, o que tem lido, como tem lidado com o assunto I.A.? Caso tenha alguma recomendação, deixe seu comentário. Ficarei feliz em aumentar meu conhecimento com a sua ajuda.
Vida longa e próspera!
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