
Investir no bem-estar emocional dos colaboradores é fundamental tanto para o sucesso quanto para a saúde de uma empresa. Basta ver o número de ferramentas que surgiram nos últimos anos, medindo e revelando os abusos e o clima inseguro em organizações corporativas. Isso significa que os colaboradores não aceitam mais trabalhar num ambiente tóxico.
No entanto, ainda hoje muitos gestores e líderes encontram muitas dificuldades para entender, em primeiro lugar, o que é segurança psicológica, e depois, como desenvolvê-la de modo integrado à cultura da empresa. Como coach executivo especializado em Pontos Fortes, acredito que esta é a ferramenta ideal para a construção de uma cultura segura e humanizada.
Devo dizer que também já trabalhei anos e anos no setor financeiro, então tenho bastante experiência “do lado de lá”, para compreender as demandas e pressões que os profissionais da alta hierarquia também sofrem.
Quando aliamos os Pontos Fortes, ou seja, os talentos naturais do indivíduo, à cultura de segurança psicológica, todos ganham. A equipe gera resultados positivos, a empresa cresce e cada indivíduo sente que está colaborando de modo engajado e satisfatório.
1. Conceito de Segurança Psicológica
A. Definição de Segurança Psicológica
Você está na empresa, no primeiro dia de trabalho. A ansiedade para provar o seu valor toma conta. Por conta disso, você comete um erro. O seu chefe grita na frente de todos, te humilhando.
Isso é o oposto de segurança psicológica.
Todos gostaríamos de trabalhar num ambiente em que seja normal cometer erros e crescer, sem medo de retaliação, ser vulnerável sem medo de rejeição ou julgamentos.
Tendo em vista tudo isso, a psicóloga organizacional Amy Edmondson popularizou o conceito de segurança psicológica. Podemos defini-lo como um ambiente no qual os indivíduos se sentem à vontade para expressar opiniões, fazer perguntas e admitir erros.

Esse conceito é fundamental para criar um ambiente de trabalho saudável e produtivo, onde as pessoas possam ser autênticas, criativas e inovadoras.
B. Importância da Segurança Psicológica no ambiente de trabalho
Somente num espaço de trabalho seguro psicologicamente os colaboradores podem se sentir produtivos e valorizados, acolhidos e protegidos. Ao se sentirem protegidos, os funcionários adotam uma comunicação franca, podem discutir e perguntar sem receio, buscando construir o resultados superiores com os colegas.
É muito comum confundirem segurança psicológica com segurança de emprego. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Segurança psicológica busca minimizar as barreiras interpessoais que afetam a inovação e o crescimento da organização.
C. Vantagens da Segurança Psicológica para a equipe e para a empresa
Tanto para a equipe quanto para a empresa, os benefícios são amplos e se interpenetram, numa simbiose harmônica. Do lado da equipe, os colaboradores se sentem mais confiantes, pois têm mais apoio, o que gera maior engajamento. Isso significa maior espaço para ousar e trazer ideias fora da caixa, aproveitando o talento natural.
Já do ponto de vista da empresa, além do desempenho e da eficiência melhorarem, todos entendem que estão num ambiente criativo e de inovação. Do mesmo modo, a retenção de talentos é maior, uma vez que a equipe tende a permanecer numa cultura segura, em que pode crescer com apoio. Ou seja, há uma redução nos custos, pois não é preciso começar a treinar novos funcionários sempre a cada ano.
2. Como construir uma cultura de Segurança Psicológica
A pergunta então que se impõe é a seguinte: como construir uma cultura com Segurança Psicológica? São 6 as principais ações:
Começar pelas lideranças
Reconhecer e valorizar os pontos fortes da equipe
Estabelecer expectativas desafiadoras e claras
Incentivar a confiança, a colaboração e a comunicação aberta
Incorporar o hábito de feedback contínuo, honesto e humanizado
Em primeiro lugar, a liderança da empresa deve promover e estimular uma mentalidade de crescimento. Ou seja, assumir que não existem mais respostas prontas e óbvias. Por isso, é necessária a participação de todos para o sucesso da organização, que aprende a cada momento. E o erro faz parte do aprendizado.
Numa cultura que pune o erro, o medo do erro pode bloquear a inovação. A neurociência tem demonstrado que o medo inibe o aprendizado e a cooperação.
“Uma organização sem medo é aquela em que o medo interpessoal é minimizado para que a equipe e o desempenho organizacional possam ser maximizados em um mundo de conhecimento intensivo, não uma organização desprovida de ansiedade sobre o futuro!” - Amy Edmondson
Pontos fortes ajudam a acelerar esse aprendizado e colaboração, ao valorizar as diferentes combinações de talentos dos membros da equipe. Essa diversidade de talentos traz à tona perspectivas diferentes, que juntas fortalecem a tomada de decisão da equipe.
Dessa forma, dar voz aos membros passa a ser elemento crucial para o sucesso das equipes e da organização com um todo.
Além disso, a liderança deve estar atenta ao bom trabalho, dando crédito, elogiando e recompensando boas contribuições. Isso demonstra que a empresa valoriza a equipe, motivando os colaboradores a continuarem se empenhando para alcançar os resultados almejados.
3. Exemplos práticos de como implementar essas ações
Suponha que uma empresa conhecida por ter uma cultura de competição acirrada e cobranças excessivas adote uma cultura de Segurança Psicológica baseada nos Pontos Fortes.
Em primeiro lugar, uma reunião é agendada para discutir o desafio. A liderança apresenta os Pontos Fortes como metodologia de base. Realiza-se uma mensuração prévia de níveis de confiança, segurança psicológica e clima organizacional. Depois, a partir da liderança e em cascata nas equipes, todos os funcionários fazem um teste (assessment) para saber exatamente quais são os seus talentos naturais.
Além de coaching individual para líderes, workshops de Pontos Fortes são uma forma energizante de estimular o interesse dos colaboradores para focarem seus talentos tanto para performance pessoal quanto para colaboração em equipe. (Veja um exemplo de dinâmica que apliquei na fintech Cora).
A partir daí, gestores de pessoas passam a ter instrumentos para discutir e desenvolver o desempenho da equipe, potencializando os pontos fortes e gerenciando pontos fracos.
Desenvolvendo comportamentos que aumentam a confiança, com base nos pontos fortes de cada colaborador, temos uma base sólida para construir a segurança psicológica na organização.
Isso passa também por uma evolução na forma de comunicação, que passa a enfatizar a apreciação e o engajamento dos funcionários. Ao mesmo tempo, é criado um programa de reconhecimento que premia as equipes que mais evoluíram. Mas o plot twist é o seguinte: a equipe só recebe o prêmio se investir em seus Pontos Fortes.
Quando todos têm expectativas claras, sabem o que fazer. Isso também aumenta a segurança da equipe, que entende pelo que será cobrada. Assim, a troca de ideias e o diálogo são incentivados, como maneira de fortalecer ainda mais a comunicação entre áreas diversas da empresa.
Ações como palestras de conscientização também fazem parte da construção da cultura. Por exemplo, em março de 2023 realizei uma palestra sobre Segurança Psicológica para a Gerência Geral de Manutenção da Vale em Vitória, ES. Mais de 70 colaboradores participaram, tanto presencial quanto remotamente.
Por fim, a empresa abre também um canal anônimo de feedback (tipo Ombudsman), para que qualquer pessoa possam relatar abusos, sem receio de retaliação.
Este é um plano bastante simplificado de como uma organização pode mudar o seu jogo, começando com o poder de engajamento dos Pontos Fortes.
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